O Profissional

Edimilson Pereira Colares iniciou sua carreira profissional como Policial Militar, em 06 de outubro de 1986. Iniciou o Curso de Formação, realizado na 3ª Companhia do 5º Batalhão de Polícia Militar, sediada em Criciúma.
Concluío o Curso em 13 de Março de 1987, ficando na 3ª colocação entre os 40 alunos que iniciaram o curso. Em todo o período do curso era conhecido como "laranjeira" por morar no quartel.
Desde o início do curso, também retomou os estudos fazendo curso supletivo de ensino fundamental na Escola OESC, situada na Rua Gonçalves Ledo, atrás da Rodoviária de Criciúma.
Sd PM Mat 915711-5 Edimilson, o 2º da Direita para Esquerda.
     A permanência em Criciúma foi de apenas 1 ano 11 meses e 27 dias. Devido o interesse do signatário em servir em Sombrio, onde morava seus familiares, constantemente pedia sua transferência. Devido a essa insistência, o então 1º Ten PM Martins, para que o signatário parasse de solicitar sua transferência para a 1ª Companhia, sediada em Araranguá, cujo objetivo era destacar em Sombrio, resolveu fazer uma proposta: Assim que ele fosse promovido a Capitão e fosse designado a servir em Tubarão, no mesmo dia autorizaria a transferência para destacar em Sombrio, cumprindo a promessa.
     No dia 11 de outubro de 1987, o signatário estava de serviço de policiamento ostensivo na Praça Nereu Ramos, centro de Criciúma, quando foi informado que deveria se apresentar ao Sub Comandante da 3ª Companhia. Ao chegar no quartel o 3º Sargento Gutemberg já o aguardava com a documentação pronta para a transferência.
     Nesse curto período que serviu em Criciúma, um dos fatos mais marcantes foi a greve dos mineiros ocorrida em março de 1987. Não há muito o que pesquisar sobre o assunto na internet, certamente em periódicos da imprensa escrita se encontrará alguma coisa. Convém, no entanto apresentar um pequeno relato divulgado pela ALESC:

O filme “Das Profundezas”, de sua autoria e direção, vai contar nas telonas a saga dos mineiros que em 1987 paralisaram suas atividades e fecharam a ferrovia Tereza Cristina por melhores condições de trabalho nas minas da região de Criciúma. Como resultado, o grupo de trabalhadores conquistou a simpatia da população local, que fez coro nas suas reivindicações, e também o direito de administrar a massa falida da empresa que os empregava – transformando-a na Cooperativa de Extração de Carvão Mineral dos Trabalhadores de Criciúma (Cooperminas).

Mais de 500 figurantes reais devem participar das gravações que remeterão aos conflitos da greve dos mineiros. Trabalhadores do carvão e a Polícia Militar também têm presença confirmada no set de filmagem. Uma réplica dos trilhos da ferrovia Tereza Cristina foi construída para compor o cenário do conflito. 

Fonte: http://agenciaal.alesc.sc.gov.br/index.php/noticia_single/filme-mostra-luta-de-operarios-que-mudou-a-historia-da-mineracaeo

          Eu lembro que estava saindo para a escola e notei que havia grande movimentação de Militares vindos de Araranguá, Laguna e Tubarão, inclusive o Pelotão de Choque, composto por 50 policiais e comandado pelo Ten Kern, notei o nome porque era considerado um conhecedor de estratégia de choque. Havia um número considerável de micro-ônibus para o transporte das tropas. Eu sabia que havia greve, mas não sabia a dimensão da situação.
          Quando cheguei da escola, por volta das 23:00 h, observei grandes expectativas, quando começaram a retornar os micro-ônibus com os vidros todos quebrados e uma correria de policiais para socorrer os feridos.
          Foi através do cozinheiro de plantão que tomei conhecimento, enquanto fazia um lanche, antes de me recolher no alojamento, que o "choque de Tubarão, havia ido sozinho com 50 homens para retirar os mineiros de sobre os trilhos" para liberar para que o os mesmos fossem recolocados.
          Segundo circulava, um número considerável (27) dos 50 policiais do choque que foram na operação de retirar os mineiros de sobre os trilhos, voltaram com escoriações leves a ferimentos graves. A informação que corria era que o pelotão de choque de Tubarão, fora recebido por uma saraivada de paralelipípedos e, que o comandante só decidiu recuar, quando metade do pelotão estava com algum tipo de ferimento.
          Testemunhei essa triste situação ao ver policiais sendo retirados nos braços dos micro-ônibus que tinham seus vidros totalmente destruídos quando da retirada do local. Havia fardamento rasgado, escudos quebrados e sangue por toda a parte.
          Por volta das 03:00 h, fui acordado de supetão com a orientação de se fardar e equipar. Saltei do beliche, pois os laranjeiras iriam compor um pelotão da 3ª Companhia para retirar os grevistas de sob os trilhos do trem.
          Logo vei a lembrança dos feridos. Mas o que mais me impressionou eram os militares escolhidos para o intento. Além dos laranjeiras, (novatos) e o pessoal que trabalhava no ostensivo (policiamento a pé), também foram convocados o mecânico, o cabeleireiro e o armeiro, policiais de final de carreira e com idade e condições físicas inapropriadas para um "ataque surpresa" na madrugada.
          Vou me privar de mencionar o nome do nosso tenente comandante desta operação. Mas vamos o os fatos:
          Não sei precisar o número de homens daquele de pelotão, mas de uma coisa eu tinha certeza, parecia que haviam juntado o resto da 3ª Companhia para fazer um assalto que o mais bem preparado pelotão de choque do Batalhão havia sido rechaçado de forma violenta. Pelas diferenças características dos dois pelotões, mais parecia uma maneira de dizer: "vocês não são de nada. Vou mostrar que com os meus homens vamos dar conta do recado". Bem, isso é uma opinião minha, tendo em vista que o choque era preparado para o confronto, enquanto um pelotão formado por mecânico, cabeleireiro, armeiro, laranjeiras e o pessoal do ostensivo, iriam resolver a contenda. Haviam os que ficaram, principalmente os da Rácio Patrulha que dissessem: "vai ser outro massacre".
          Lá fomos nós, capacete, escudo, cassetete e: mais nada. Só o oficial comandante estava armado com um revólver.
          Embarcamos no ônibus e nos deslocamos para o ponto de desembarque, local bastante escuro da linha do trem. Distava aproximadamente 1 Km do local onde haviam sido arrancados os trilhos e onde os grevistas montavam guarda acampados. Desembarcamos e formos andando em silêncio absoluto pelos trilhos. Andar por sobre aqueles paralelipípedos soltos era uma façanha. Para isso serve o coturno, pensava. De repente o comandante levanta o punho. Todos param. Ele passa as ordens e pergunta: "todos prontos?"
          Tirou o cassetete empunhou com firmeza ao alto e gritou: "atacar!" Foi um deus nos acuda, sair em disparada no escuro sobre o trilho de trem. Eu que formava a retaguarda do pelotão de ataque, ora acudia um que tropeçava, ora outro e assim avançávamos rumo ao confronto iminente.
          Bem o que acham que aconteceu?
          Não havia sequer um único grevista guardando os trilhos arrancados. Provavelmente com a refrega vitoriosa contra os 50 homens do Pelotão de Choque de Tubarão, provavelmente acreditaram que não haveria mais outra tentativa naquela madrugada.
          Nunca havia sido tão fácil recuperar a posição e mantê-la até que as os outros pelotões chegassem para engrossar o reforço na defesa. É bem verdade que os céus ajudaram, pois não sei o que aconteceria se fôssemos recebidos a pedradas, tendo em vista que trotar aproximadamente 500 metros por sobre trilhos de trem, sem nunca tê-lo feito da para imaginar como estava a situação física e psicológica do barbeiro, mecânico, armeiro e da rapaziada do ostensivo.
         Então foram chegando pelotões de Araranguá, Laguna, Tubarão e mais tarde o pelotão de choque de Florianópolis. Nós que madrugamos no embate ficamos até às 17:46 h, sem comer nada. Eu particularmente nem água me foi servido. O Sol de março era um inimigo cruel. No início da tarde os mineiros começaram a se concentrar do lado norte. O vento soprava de nordeste. Já dava para se ter uma ideia do que iria acontecer. As pedras começaram a ganhar asas e atingir o circulo que protegia os trilhos arrancados. O pelotão de choque Florianópolis começou a fazer incursões para desfazer a concentração usando bombas de efeito moral e logo veio o nosso suplicio: As bombas de gás lacrimogênio. O vento trazia o gás de volta para nós e ai a luta piorou. Era o Sol, as pedras e o gás.
          As lágrimas corriam pela ação do gás e os escudos recebiam as pedradas. Era preciso estar atento. Alguns policiais relapsos foram feridos devido ao relaxamento do uso correto do escudo. Nós que mantínhamos o circulo fechado estávamos mais próximos dos grevistas que se aproximavam escondidos por entre as casas. Sabiam que não podíamos atingi-los, então nossa situação começava a ficar mais perigosa com o número de pedras que ganhavam asas vindas diretas sobre o alvo, no caso, nós.
          Desrespeitando as ordens, verificando a aproximação dos grevistas em minha direção por de trás de algumas casas, juntei os paralelipípedos que haviam caídos próximos de mim e comecei revidar a ação. Alguns próximos de mim começaram a fazer o mesmo. O comando não tendo outra alternativa para cessar a aproximação dos grevistas por todos os lados admitiu a alternativa.
          Eram aproximadamente 1.500 grevistas  exercendo aquela pressão naquele dia. No meio daquela tarde, sob aquele conflito, se realizavam as negociações para resolver a recuperação dos trilhos e fazer uma trégua no conflito. Bem o que fora negociado não tenho conhecimento. O fato é que depois de 15 horas de ação ininterrupta o nosso pelotão "de vanguarda", fora liberado, sem ter ninguém com qualquer ferimento.

          Existem um número considerável de ações desenvolvidas ao longo da carreira profissional.Em Sombrio, quando o signatário aqui chegou ainda era um destacamento que funcionava em um pequeno espaço junto a antiga delegacia de polícia civil. O local ainda é o mesmo da atual delegacia. A única viatura da Polícia Militar era um Fiat 147, com as mesmas características da fotografia ao lado. A famosa Radiopatrulha de Sombrio. Para a época o número de policiais Militares de Sombrio era considerável e o policiamento ostensivo a pé era efetivo e a maioria dos comerciantes conheciam praticamente todos os policiais. Algumas ocorrências de prisões feitas pela polícia civil, sempre tinham o apoio da Polícia Militar.

     Em 18 de dezembro de 1987, foi então inaugurado o quartel da Polícia Militar, no governo do Prefeito Municipal Arlindo Cunha, com endereço na Rua Vereador Celso Gervásio Cardoso, 182 - Centro de Sombrio. 1988, fui designado a fazer um curso de datilografia, para trabalhar como auxiliar das funções desde escalas de serviço, trânsito, etc. Todavia nos meses de verão o serviço era focado na operação veraneio em Balneário Gaivota ainda pertencente a Sombrio. Não havia policiamento fixo ainda na praia. Também havia o Rodeio no CTG Sul Catarinense cujas escalas eram fustigantes e muito cansativas devido aos grandes períodos consecutivos de serviço que poderia chegar até 72 horas ininterruptas. 

     Na fotografia à direita a típica farda com a boina azul, com coldre distendido e amarrado na perna com o tradicional revólver calibre 38. Em cidades como Criciúma ainda se usava o capacete. A maioria dos cassetetes eram de madeira. Uma das peças do antigo fardamento que desapareceu foi as jaquetas usualmente bastante ajustadas no corpo. 
     Com o curso de datilografia e uma máquina olivette pequena (portátil) na cor verde, iniciei os trabalhos datilográficos no 4º Pelotão, da 1ª Companhia do 5º Batalhão. Este último sediado em Tubarão. Fazer tabelas usando maquina de escrever era uma rotina de movimentos repetitivos que não paravam mais. 
     Prestei serviço administrativo a todos os comandantes que passaram por Sombrio, desde o Sargento Borges até o atual Major Luis Paulo Fernandes, quando fui para a reserva em 2016, com 30 anos e dois dias de efetivos serviços prestados a Polícia Militar de Santa Catarina.
     Por nove anos consecutivos representei a Polícia Militar no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Sombrio e juntamente com o Major Gilmar Amândio Espíndola, colaborei diretamente nas negociações e tratativas com o então prefeito municipal José Antônio Tiscoski da Silva (Jusa), para a efetivação da doação do terreno onde está localizada a atual sede da 2ª Companhia de Polícia Militar à Rua Aniceto Silveira, Bairro Nova Brasília. 

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